terça-feira, 12 de maio de 2009

Encontrar o fim

O velho Centauro percebeu que seu olhar havia se perdido entre as luzes do firmamento, e voltou seus olhos rapidamente para o jovem que, sentado, olhava para seu Mestre como se ele próprio contemplasse o firmamento:
"Curar..." disse solenemente Quíron enquanto fazia um ligeiro movimento de seus braços com um leve arquejar de suas patas dianteiras, trazendo consigo uma pequena flor silvestre; "exige muito mais que um simples aplicar de unguentos e preces...".
Avançou lentamente na direção oposta do seu aluno enquanto desfolhava o ramo ressequido.
"Trazer os doentes ao seu estado natural, meu filho.... é a cura que buscamos."
O discipulo ergueu-se, massageando as pernas doídas pelo longo período sentado.
"Mestre... como é possível trazer algo a seu estado original?" - "Os rios não fluem ao reverso, as casas não são feitas pelo teto, os homens não rejuvescem.."
O astuto centauro, compreendendo a cerne dos questionamentos do aluno, mostrou-lhe o punho grosseiro com o pequeno ramo esmigalhado, dizendo "Curar é levar aquilo que se deseja curar ao fim. Curar é destruir. Curar é esmigalhar. Curar, é tornar em pedaços, pacientemente....", e arremessou o pequeno ramo perto do seu aluno, que se curvou para olhar.
No lugar onde o ramo caiu, várias sementes daquele ramo também caíram.
O centauro olhou, enérgico, para seu aluno. Seus olhos faíscavam sabedoria. E disse:
"Curar é levar tudo o que existe, ao fim. Eis sua cura, meu aluno. Encontrar o seu fim."

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