quarta-feira, 13 de maio de 2009

Dor e salvação

Ariadne era rica, jovem e bela. E destinada a um sofrimento épico.Casou-se com o herói Teseu, por quem havia se apaixonado.
Teseu, na verdade, era apaixonado pelo perigo e ávido por aventuras. Ele sabia ser um erro se casar com Ariadne. O principe de Atenas pertencia ao mundo das emoções e das glórias, não ao doce mundo de amor de Ariadne.
Por isso, ela foi abandonada por ele numa ilha deserta, sozinha na companhia do frio, do medo e da fome. Chorou até secarem as lágrimas, chorou até que suas lágrimas fossem sangue.
Ao entardecer daquele dia, ela viu sair do mar a figura de um jovem, que caminhava sobre as águas, vestido de peles de leopardo e coroado com ramos de hera. Os olhos do jovem fulguravam o espaço que havia entre ela e o céu, e ela foi tomada de arrebatamento nos braços do jovem.
Ele voltou seu olhar para os olhos da princesa. Fitou-os como se fitasse o fundo do mar de onde viera, e proferiu com sua voz imaculada:
"Não nasceste, Ariadne, para ser amada por um mortal. Nasceste para ser amada por um deus."
Ariadne era rica, jovem e bela. E destinada a ser amada por um deus.Casou-se com o deus Dionisio, que a fez feliz. E quando morreu, foi transformada na constelação Coronis Ariadna, ou "Coroa de Ariadne".
Ariadne era destinada aos ceus, mas sofreu os rigores da dor e do abandono, antes de ser libertada do martírio.
Quem a define, a dor ou a salvação?

terça-feira, 12 de maio de 2009

A imortalidade é um encontro com a morte

Era grande a avidez do jovem Aquiles pelos segredos dos deuses. Queria saber de que eram feitos os ventos, porque o mar se balançava com tanta força, e acima de tudo questionava sobre a imortalidade, o dom divino de ter um começo e jamais um fim. Questionava seu mestre, o Centauro Quiron sempre que surgia a oportunidade.

"Não posso lhe ensinar o caminho da imortalidade, Aquiles.
Eu, que não posso morrer, não posso ensina-lo."

Aquiles, sempre pressuroso, insistia: "Porque, senhor? Porque não???"

"Porque para ti, meu aluno, a imortalidade será um encontro com a morte."

Desde então, qualquer pergunta sobre imortalidade tornou-se silêncio na boca do jovem semideus.

Encontrar o fim

O velho Centauro percebeu que seu olhar havia se perdido entre as luzes do firmamento, e voltou seus olhos rapidamente para o jovem que, sentado, olhava para seu Mestre como se ele próprio contemplasse o firmamento:
"Curar..." disse solenemente Quíron enquanto fazia um ligeiro movimento de seus braços com um leve arquejar de suas patas dianteiras, trazendo consigo uma pequena flor silvestre; "exige muito mais que um simples aplicar de unguentos e preces...".
Avançou lentamente na direção oposta do seu aluno enquanto desfolhava o ramo ressequido.
"Trazer os doentes ao seu estado natural, meu filho.... é a cura que buscamos."
O discipulo ergueu-se, massageando as pernas doídas pelo longo período sentado.
"Mestre... como é possível trazer algo a seu estado original?" - "Os rios não fluem ao reverso, as casas não são feitas pelo teto, os homens não rejuvescem.."
O astuto centauro, compreendendo a cerne dos questionamentos do aluno, mostrou-lhe o punho grosseiro com o pequeno ramo esmigalhado, dizendo "Curar é levar aquilo que se deseja curar ao fim. Curar é destruir. Curar é esmigalhar. Curar, é tornar em pedaços, pacientemente....", e arremessou o pequeno ramo perto do seu aluno, que se curvou para olhar.
No lugar onde o ramo caiu, várias sementes daquele ramo também caíram.
O centauro olhou, enérgico, para seu aluno. Seus olhos faíscavam sabedoria. E disse:
"Curar é levar tudo o que existe, ao fim. Eis sua cura, meu aluno. Encontrar o seu fim."

Trair é uma virtude natural

Todo homem, trai (homem, no sentido de humanidade).
E acredito não ter nada tão virtuoso no homem, quanto essa capacidade de surpreender, trair e decepcionar. É fato, todos vão se decepcionar contigo, e ainda, muitas vezes.
É uma grande virtude, uma louvável característica do homem essa capacidade de despedaçar esperanças, de egoistamente nos 'puxar o tapete'.
A capacidade de tecer padrões e modelar ações de acordo com estes modelos é própria da natureza como um todo. Frente fria + frente quente = chuva. Semente + condições próprias = nova árvore.
A falta de moralidade humana também é um padrão natural. Não se surpreenda então por sua própria. Nem pela dos outros. Jamais diga "eu não esperava isso de você" ou "você é a ultima pessoa de quem esperei isso...", porque se disser, a culpa é tua. Quem disse que temos que esperar jamais sermos traídos? No pacote das relações humanas com qualquer pessoa, inclua SEMPRE e de forma natural, a decepção uma vez ou outra.
E como dizem que o natural faz bem... não morrerá da decepção dos traídos

O fogo origina-se do movimento

O fogo é originado pelo movimento
Da fricção, das trocas de energia
Da radiação, da luz difusa
Todas essas possibilidades criadoras do fogo, têm algo em comum: o movimento.
O dom que Prometeu trouxe ao mundo foi a capacidade de produzir algo útil, de sempre poder criar algo fascinante, que pode nos fazer o bem como o mal. Que pode nos aquecer e nos ferir.
E assim como o fogo, só podemos produzir algo fascinante quando estamos em movimento.
Gravetos parados não fazem chamas, pedras paradas tampouco. Sem os ventos as nuvens jamais se ajuntariam para que os relampagos acendam verdadeiras conflagrações naturais.

E isso, como tudo, depende do movimento.

Sem nos mover, nunca vamos aquecer, tampouco queimar qualquer coisa.

Não existe temporalidade na mudança.

O inevitável pode ser adiado, mais jamais esquecido. Não podemos mudar no universo aquilo que não muda. E o que não muda no universo é a mudança. É a maior certeza que temos, que há fim para tudo que existe. E que tudo pode começar de novo, mas diferente. A felicidade reside exatamente neste meio, entre o inicio e o fim, entre um fim e um começo. Não gosto de usar a palavra recomeço porque sugere refazer tudo igual, um começo (sem o ‘re’) sugere a mudança que aconteceu, e que ainda acontece. A cada vez que começamos, fazemos diferente, fazemos de outra forma. Não há um único momento na existência diferente do outro. Passado, presente e futuro são uma coisa só, porque estão em mudança. Hoje é passado, hoje é futuro e hoje é presente. O agora possui todos estes conceitos de temporalidade.
Se escolhemos ter a felicidade agora isso também significa que fomos felizes, somos felizes e seremos felizes.
Força, capacidade de mover. Energia.
Transferência de energia. É incrível que a energia signifique entre tantas coisas, que algo está parado e por consequência outro elemento se move. Energia é movimento. Com algo perdendo e algo ganhando o motuus.

Conceitos físicos, e porque não vitais?
A existência é um fenômeno sutil. O curso da existência tem um ritmo determinado, que desconhecemos. Como a gravidade, somos absolutamente influenciados por essa força, independente de a conhecermos. Como tudo o que há.

domingo, 10 de maio de 2009

Eu achei que os maiores dos desesperados consigo e com a vida, eram aqueles que não sabem a saída para seus problemas.
O pior é conhecer a saída e saber que sair, vencer, sei lá.... é mais dificil quando se sabe.
A humanidade é deveras definida
Especial e mórbido viver entre seus entes
Necessário e absoluto sentir-se deveras sua parte
Sobre ela jamais repousaria a paz: eis seu segredo.
É impossivel evitar as conflagrações
Destes entes desconhecidos sem-sentido
Que buscam entre o ceu e além
O segredo de suas conflagrações.
O mundo queima e os homens migram
A terra geme completamente sozinha.
A humanidade é deveras definida
E não encontra seus parâmetros.
E não sabem, que seu segredo original
Reside no igual, no mesmo, no padrão
Tudo é uma coisa só.
Nada está além do que existe imaginado.
Até onde ela crescerá?
o significado da vida é um grande vazio, por isso sempre buscamos preenche-lo com conceitos e identidades...

Remoçar...

Remoçar sempre faz parte do significado da vida de todos... sempre, em algum lugar, todo o tempo, algum está recolhendo os cacos (ou não) e recomeçando

Amor e paixão (Eros e Pornos) ?

Uma amiga, um dia desses, me perguntou:

"...amor é diferente de paixão... (óbvio) ... o amor vem da paixão? ou o amor pode não ter aquela parte "cega"? "

Eu disse:

"hmmm.... olha, eros sempre vem com um pouco de pornos......
eles não tem nada a ver um com o outro, mas andam juntos.
Eros coordena pornos. Eros é o amor, a confiança, o companheirismo.
O pornos é o desejo puro, pela carne, e irracional. Eros guia pornos. "

Hoje eu mesmo me pergunto. A carruagem depende do cocheiro ou dos cavalos?

De ambos. Não destino sem qualquer um dos dois.

A imortalidade do mal

Os mitos gregos estão repletos de histórias de monstros e heróis. Muitas vezes essas histórias eram contadas para entreter, mas também tinham um profundo significado espiritual.

Um destes mitos é o da Hidra de Lerna. Um monstro lendário, morto pelo herói Hércules, e que vamos dissecar agora.

A Hidra é o símbolo da maldade e da perfídia, antes de qualquer coisa

A hidra possuía 9 cabeças, cada uma delas, quando cortadas, regeneravam 2 cabeças adicionais.
Uma das 9 cabeças, é imortal
(Não há limites para a maldade. Não há fim para o mal. O mal não descansa. O mal não se vence com a violência).

Seu hálito era ácido e repleto de veneno. Exalava-o a todo tempo.
(O mal é capaz de contaminar e ferir tudo o que toca).

Hércules usou a ajuda de um amigo, Iolaus, e do fogo para evitar que as cabeças regenerassem.
(A semente do mal não germina diante do conhecimento: o fogo).
(A amizade sincera e leal resiste à maldade).
(Nada vence o mal na solidão).

Hercules matou a Hidra soterrando sua cabeça imortal com uma gigantesca pedra.
(Não é possivel evitar um dos elementos essenciais da realidade. A violência e a malícia são eternas, mas podem ser sufocadas se o esforço é grande o suficiente - como o esforço de erguer uma gigantesca pedra).

Enfim, deixarei outros exemplos do formato doutrinário que os mitos alcançam.

A busca é o objetivo

Eu tento ser um ser humano melhor sempre, sem jamais ter a ambição de que um dia conseguirei.
Sabe uma das coisas que descobri com a vida e com o tempo? A felicidade vem com a busca e não com o encontro.
É o fato de ter um objetivo que nos dá razão de viver.

A existência é um fenômeno multiplo

A existência é múltipla. Tem bases mutáveis e etéreas. Ela não permenece jamais como uma única forma e nunca pode ser definida.
Não há padrões, não há formas, nem elementos, nem composições. Se tudo o que existe existe por uma razão então a razão é não poder ter razão. A existência é infinita, a vida uma manifestação de beleza, inteligência e harmonia.
A vida é o único padrão que foge às formas, que foge a qualquer indefinição do que pensamos ter definido. Há tanta vida em um ser humano quanto há em um pepino do mar. E ainda sim o pepino do mar não fala.
Há tantos segredos por se contemplar que mesmo o ato de contemplar, deve ser contemplado.